UM DESAFIO SOLITÁRIO
Sexta-feira, 22/11/2024, 18h11min - Foto: DivulgaçãoAcompanhar o Grêmio à distância é oscilar entre a saudade e o tormento. Aqui em Amsterdam, as manhãs geladas de inverno começam mais animadas em dia de jogo. A expectativa cresce ao longo da semana — mesmo em dias de neve, com temperaturas abaixo de zero e a correria da vida de imigrante. Mas, quando o árbitro apita, o que deveria ser um momento de alívio vira um martírio.
E é curioso observar isso. Para quem vai à Arena, ainda há algo que ameniza a dor: a experiência do jogo em si. O pré-jogo, a viagem de quem vem do interior, as resenhas com amigos, o churrasco no entorno do estádio, a festa da Geral, a caminhada até a esplanada — tudo isso nos preenche como gremistas. Mesmo quando o time joga mal, há um certo consolo em estar ao lado de outros 40 mil dividindo alegrias e frustrações.
Mas, à distância, assistir ao Grêmio é um desafio solitário. Não estou aqui querendo fazer uma competição de quem sofre mais ou menos, longe disso, porque a dor do gremista é a mesma. Estamos todos no mesmo barco. Mas é uma melancolia olhar para a tela, num cômodo vazio, geralmente na madrugada europeia, esperando que o Grêmio respire. E o que vem é mais uma dose de frustração. Cada lance errado do Reinaldo provoca uma raiva quase automática; cada tentativa de construção de jogada parece, na tela, não fazer sentido algum. O Grêmio joga mal, e qualquer adversário que põe os pés na Arena parece ser o dono da nossa casa.
E no banco está Renato, o maior ídolo da nossa história, passando pelo seu pior momento como técnico do clube. Nem as vírgulas da enchente justificam o quanto este ano foi pavoroso. Até nas expressões faciais negativas do Renato dá para enxergar a nossa própria preocupação refletida: ele parece tão perdido quanto nós.
Agora restam mais uns dias de angústia até o próximo jogo, com aquela fé da imortalidade (palavra que parece ter perdido um pouco o sentido nesta temporada) que todo gremista carrega — de que, no próximo, tudo pode ser diferente. É uma espera cruel, como se fôssemos personagens trágicos sempre à beira de um novo desfecho infeliz.
Que esse pesadelo acabe. Que venham os pontos matemáticos. Que esse ano de agonia finalmente termine e nos permita respirar de novo, juntos, como Grêmio.
César Augusto Saadi - Jornalista Esportivo